- Sérgio Fadul - Rádio Coração
São Rosendo
São Rosendo nasceu no ano de 907, em Monte Córdova, dentro de uma família muito religiosa. Seus pais foram o Conde D. Guterre Mendez de Árias e Santa Ilduara.
Adolescente, passou Rosendo a Mondoñedo, onde seu tio paterno, Savarico, era bispo. É de presumir que tenha prosseguido os estudos nalgum mosteiro beneditino.
Em 925, apenas com dezoito anos, sucede ao bispo de Mondoñedo, sendo muito bem recebido. Esforçou-se por restabelecer e e consolidar a paz, reconstruindo - ajudado pelos pais - os mosteiros e igrejas que tinham sofrido com a desordem. Assim serenou e conquistou os abades de toda a Galiza, que formavam a nobreza eclesiástica; e atraiu a nobreza civil, a que estava muito ligado pelo sangue. Libertou os escravos dependentes da mitra e trabalhou para que os outros senhores fizessem o mesmo; ficou sendo o pai de todos os libertos.
Depois de ser bispo de Mondoñedo, passou a sê-lo de Dume. Veio a Portugal visitar o mosteiro em que era abadessa sua parente, Santa Senhorinha. Desejando apresentar uma comunidade-modelo, conseguiu regressar e edificar um grande mosteiro, depois de um irmão e uma prima lhe terem cedido a quinta de Villar, na diocese de Orense. Obteve doações de ricos e pobres, sobretudo da mãe. Ao fim de oito anos de construção, num domingo do ano de 942 inaugurou a casa, que se ficou chamando Celanova: recebeu as felicitações de 11 bispos da Galiza e de Leão; foi saudado por 24 condes; prestaram-lhe homenagem muitos abades, presbíteros, diáconos e monges; e ouviu os aplausos da multidão.
Ficou abade de Celanova o monge Franquila. E São Rosendo voltou a Mondoñedo a extinguir rancores, sufocar conspirações, acalmar avarezas e pacificar famílias. Entre 944 e 948, depois de renunciar o bispado, retirou-se para Celanova. Mas foi preciso que substituísse alguns parentes seus, na autoridade que lhes pertencera, pois esses tinham-se revoltado contra Ordonho III (955). Administrou a diocese de Iria-Compostela pelo ano de 970, quando a região era assolada por violentas incursões normandas.
Veio a falecer em Celanova, no 1º de março de 977, com testamento que reflete fé, ciência escriturística, humildade, amor à Ordem Beneditina, predileção por Celanova e desejo de viver na eternidade como vivera os seus dias de afadigado peregrinar na terra: "sob a providência de Deus".
São Rosendo, rogai por nós!
MARTIROLÓGIO ROMANO
01/03
1. Em Roma, junto de São Paulo, na Via Ostiense, São Félix III, papa, tetravô do papa São Gregório Magno.
(† 492)
2. Em Angers, na Gália Lionense, atualmente na França, Santo Albino, bispo, que repreendeu veementemente os costumes abusivos dos poderosos e promoveu com ardor o Terceiro Concílio de Orleães para a renovação da Igreja.
(† c. 550)
3. Em Saint David, antiga Menévia, no País de Gales, São David, bispo, que, imitando os exemplos e virtudes dos Padres orientais, fundou um mosteiro, de onde partiram muitos monges para evangelizar o País de Gales, a Irlanda, a Cornualha e a Armórica.
(† c. 601)
4. Em Le Mans, na Nêustria, hoje na França, São Siviardo, abade de Anisole.
(† c. 680)
5. Em Kaiserswerdt, ilha do Reno, na Saxónia, atualmente na Alemanha, São Suitberto, bispo, que, tendo sido monge na Nortúmbria, depois companheiro de São Vilibrordo e finalmente ordenado bispo por São Vilfredo, anunciou o Evangelho aos Bátavos, aos Frisões e a outros povos da Germânia e morreu piedosamente, já em idade avançada, no mosteiro que tinha fundado.
(† 713)
6. Na Gasconha, num território hoje situado no sudoeste da França e noroeste da Espanha, São Leão, bispo e mártir.
(† s. IX)
7*. No mosteiro de Avena, nas encostas do monte Mercúrio, na Calábria, região da Itália, São Leão Lucas, abade de Monte Mula, que resplandeceu na vida eremítica e cenobítica segundo a observância dos monges orientais.
(† c. 900)
8*. Em Celanova, na Galiza, região da Espanha, São Rosendo, que foi primeiramente bispo de Dume, em Portugal, onde procurou promover e restaurar nesta região a vida monástica e, renunciando ao ministério episcopal, tomou o hábito monástico no mosteiro de Celanova, que dirigiu como abade.
(† 977)
9*. Em Tággia, na Ligúria, região da Itália, a comemoração do Beato Cristóvão de Milão, presbítero da Ordem dos Pregadores, muito dedicado ao culto divino e à doutrina sagrada.
(† 1484)
10*. Em Bassano, no Véneto, região da Itália, a Beata Joana Maria Bonomo, abadessa da Ordem de São Bento, que, dotada de dons místicos, experimentou no corpo e na alma as dores da Paixão do Senhor.
(† 1670)
11. Em Xilinxian, cidade da província de Guangxi, na China, Santa Inês Cao Kuiying, mártir, que, tendo vivido casada com um esposo violento, depois da morte deste se dedicou, por mandato do bispo, ao ensino da doutrina cristã; por isso foi encerrada num cárcere, onde sofreu crudelíssimos tormentos, e, sempre animada pela confiança em Deus, partiu deste mundo para as núpcias eternas.
(† 1856)
Santa Inês Cao Kuiying
Origem
Santa Inês Cao Kuiying nasceu numa aldeia chinesa. Ainda bem novinha, foi para um orfanato depois da morte de seus pais, que eram católicos.
Fraternidade católica Quando jovem, mudou-se para Xingyi (China) em busca de trabalho. Lá, conheceu uma mulher, também católica, que a acolheu em sua casa. Foi nesse tempo que a jovem Inês se encontrou, pela primeira vez, com o Bispo Bai, que estava de passagem por aquela cidade.
Intervenção da Providência
Assim que o Bispo descobriu que aquela jovem não tinha família, quis ajudá-la inserindo-a na paróquia local. Ele a levou para participar de um aprofundamento de fé que acontecia na paróquia da cidade, e logo se impressionou com os rápidos progressos que Inês fazia.
Santa Inês Cao Kuiying e o difícil casamento
Matrimônio e provações Ao completar dezoito anos, ela se casou com um homem daquela região que trabalhava numa fazenda. Após o casamento, ela o descobriu muito violento. A partir daí, a jovem Inês enfrentou novas dificuldades. Seu cunhado e sua cunhada também passaram a tratá-la com desprezo por ser cristã. Este tratamento foi piorando cada vez mais, a ponto de Inês passar fome dentro da própria casa.
Viuvez Infelizmente, a situação ficou bem pior depois do falecimento de seu marido: foi expulsa de casa. Para não passar fome, Inês fez trabalhos temporários em casas de família. Por causa desses trabalhos, conheceu uma piedosa viúva católica que a convidou para morar com ela. Em pouco tempo, era nítido o progresso espiritual que Inês vivia, ajudada por aquela mulher que a acolheu em casa.
Sacramentos Por graça de Deus, a patroa de Inês Cao Kuiying sempre recebia em sua casa a visita de um sacerdote que ministrava para ela o Sacramento da Reconciliação (confissão) e a Eucaristia (celebrava a Santa Missa). Com isso, Inês cultivou com grande esmero a sua própria espiritualidade.
Atitude missionária e vida ativa
Ensinava o catecismo Certa vez, Inês Cao Kuiying conheceu um missionário que, encantado com o conhecimento que ela possuía sobre a fé católica, a convenceu sair em missão para ensinar a Palavra de Deus. Ela então mudou-se para Baijiazhai, em 1852, onde passou a ensinar o catecismo. De um lado para o outro, Inês pregava a Palavra de Deus e transmitia a fé católica. Em seus tempos livres, ela cozinhava, cuidava de uma casa de família e ainda fazia trabalhos de babá.
Perseguição cristã O governo local adotou posturas cada vez mais intransigentes com os cristãos. Inês e muitos outros católicos foram levados sob custódia. Embora muitos daqueles cristãos presos tivessem sido libertados pouco tempo depois, Inês e mais um sacerdote, foram mantidos no cárcere.
Engaiolada, manteve-se firme na fé
O julgamento O Juiz daquela forania ainda tentou persuadir Inês a negar sua fé. Porém, ela manteve-se firme. Ele fez ameaças ainda mais duras ao dizer que ela seria torturada se não negasse sua fé. Mais uma vez, a jovem não demonstrou medo. Por fim, o magistrado a trancou em uma gaiola tão pequena, de modo que ela não conseguia se mexer. Do seu interior brotou a seguinte oração: “Deus, tenha misericórdia de mim; Jesus me salve!”.
Páscoa Em 1º de março de 1856, ela gritou forte: “Meu Deus, me ajude!” e expirou aos 35 anos. O Papa Leão XIII a proclamou bem-aventurada em 27 de maio de 1900, e no dia 1º de outubro de 2000, o Papa João Paulo II a canonizou com mais 120 mártires da China.
Minha oração “Senhor, as situações que vivemos tentam nos engaiolar e, cada vez mais, o cerco se fecha para os cristãos. Dai-nos a coragem necessária para, diante das perseguições do tempo presente, não negarmos a Cristo. Assim seja.”
Santa Inês Cao Kuiying, rogai por nós!
Fonte: Canção Nova
São Davi de Menévia
Bispo e missionário galês, patrono do País de Gales, venerado hoje tanto pelos católicos romanos quanto pelos anglicanos...
Segundo o censo realizado no ano de 2021, o País de Gales, nação independente constituinte do Reino Unido, possui cerca de apenas 46,2% de cristãos, sendo que a maioria destes nem é católica, mas partidária de uma igreja “reformada” nacional, desmembrada da Igreja Anglicana da Inglaterra desde o ano de 1914. No país o número de ateus cresce assustadoramente a cada dia, pois se o censo de 2001 apontava que cerca de 18,5% dos cidadãos ou eram declaradamente ateus ou não professavam nenhuma religião específica, em 2021 o percentual mais que dobrou, somando aproximadamente 37,2%. Apesar deste notável resfriamento da fé cristã no País de Gales, especialmente nos séculos anteriores ao movimento separatista iniciado por Lutero (1517), a nação deu à Igreja um grande número de Santos e de Santas, um maravilhoso jardim onde, sem sombra de dúvidas, a “flor da santidade” de São Davi é a mais enaltecida, ao ponto de o bispo ter sido declarado seu principal patrono. Pouco conhecido entre os latino-americanos, São Davi goza de tanta popularidade em Gales e na Inglaterra, e mesmo nos Estados Unidos e no Canadá, que ele é venerado ao mesmo tempo pelos católicos e pelos anglicanos. Ademais, a chamada “Bandeira de São Davi”, composta de uma cruz amarela sobre um fundo preto, constitui um dos símbolos nacionais galeses, ao lado da bandeira oficial do país. Como se não bastasse, enquanto os cristãos se unem para celebrar este dia que para eles é “santo”, os não-cristãos curtem, à custa de São Davi, das benécias de um feriado...
Davi (ou “Dewi”, em galês) nasceu entre os anos 462 e 512 da Era Cristã, em Menévia, também conhecida naquele tempo como “Mynyw”, no extremo sudoeste do País de Gales, neto de Ceredig, príncipe de Cardigan, e filho do rei Sandde de Gales do Sul. Davi seria, portanto, um príncipe? Mais ou menos, pois na verdade ele foi um filho bastardo de Sandde, concebido de um estupro sofrido por sua mãe, Santa Mélarie – que é venerada pelos britânicos com o nome de “Non”, no dia 03 de março. Mélarie foi uma religiosa que viveu em castidade antes e depois de gerar seu único filho, Davi, que veio ao mundo em meio a uma fortíssima tempestade, o que segundo a tradição local daquela época foi entendido como um presságio de sua força e determinação. A posição social da família de sua mãe – ela era filha de Cynyr, lorde de Caer Goch –, deu a Davi quando menino a oportunidade de ser instruído pelos melhores mestres de seu tempo, dentre os quais Santo Iltuto, num primeiro momento, e depois por São Paulino, que se responsabilizou de esclarecê-lo na fé por cerca de 10 anos.
O carisma rígido e o comportamento monástico de Paulino, assim como de outros mestres, influenciaram fortemente a vocação de Davi, que desde sua meninice se sentiu inclinado não à vida fácil, mas às austeridades do claustro. Educado por vários anos em Whihtland, no condado de Carmanthenshire, ele próprio se tornou professor e pregador, indo de cidade em cidade pelas regiões de Gales, da Cornualha e das Ilhas Britânicas, deixando atrás de si a fundação de diversos mosteiros e igrejas.
Bom aluno como era, Davi se mostrou tão rígido na defesa e no ensinamento da fé cristã que sua disciplina apenas podia ser comparada com a dos monges egípcios do deserto, e talvez fosse ainda mais áspera que a deles. Apenas para que tenhamos uma melhor ideia do ascetismo de nosso santo, dentre outras características bastante peculiares e árduas, é oportuno dizermos: a regra monástica escrita [e vivida] por São Davi proibia, por exemplo, os monges de utilizarem da força animal no arado da terra; proibia o consumo de álcool e de qualquer outra bebida que não fosse água e previa como alimento apenas pão com sal e ervas, especialmente o alho-porro (ou “alho-poró”), muito comum naquela região e símbolo do país; as carnes eram absolutamente vedadas; o silêncio era praticamente sepulcral, pois os religiosos somente podiam conversar o absolutamente indispensável; propriedade privada não existia: seus monges não podiam possuir sequer um livro, pois tudo era colocado em comum; as noites inteiras os religiosos deviam passá-las entre os estudos, as orações e o silêncio, reservando pouquíssimas horas para um merecido descanso. Frente a um estilo extremamente radical de viver a fé, alguns poderão supor que Davi não encontrou muitos adeptos entre os seus. Ledo engano, pois durante sua missão ele fundou não menos que 12 mosteiros. Ele, com efeito, era tão austero que chegou a ser criticado por São Gildas de Rhuys, além de ter sofrido uma tentativa de assassinato por parte de seus próprios monges, que quiseram envenená-lo; porém, nunca lhe faltaram discípulos...
Davi se tornou um referencial da autenticidade e da justeza da fé, tanto que no ano de 560 exerceu forte influência sobre o “Sínodo de Brevi”, cidade hoje conhecida como Llanddewi Brefi, no condado de Cardiganshire. Falando com fervor e com eloquência contra a heresia pelagiana – que, dentre outras coisas, negava tanto o pecado original quanto a necessidade da graça de Deus para a salvação do homem –, nosso santo acabou atraindo para si a atenção dos padres sinodais, de forma que, não muito tempo depois, foi escolhido e nomeado como bispo de Caerleon, cidade localizada às margens do rio Usk, convertendo-o assim no primaz de Gales (o “primeiro” dentre os demais bispos galeses). Muito humilde e longe de querer concorrer a qualquer cargo de importância, Davi tentou de todos os modos recusar a dignidade episcopal, mas acabou sendo forçado pela assembleia de Brevi, e particularmente pelos argumentos de São Daniel de Bangor e de São Dubrício. A única condição que Davi impôs para aceitar a missão foi a de transferir a sede de sua diocese para Menévia, onde ele havia erigido uma grande abadia, a mais importante de suas fundações...
Segundo a tradição, no momento em que o santo foi sagrado como bispo, uma pomba branca pousou sobre seu ombro, o que foi interpretado por todos como uma indicação divina acerca da dignidade e das virtudes do novo prelado no exercício do ministério da sucessão apostólica. A pomba sobre os ombros se tornou um referencial iconográfico de São Davi, assim como o alho-porro, uma vez que, segundo as lendas, certa vez, quando os soldados galeses se preparavam para guerrear contra os saxões, ele teria indicado aos homens que envergassem sobre seus elmos um pequeno feixe da erva, no intuito de se distinguirem de seus inimigos. O conselho do santo bispo e sua bênção foram interpretados como um prenúncio da vitória...
Outra história envolvendo São Davi nos dá conta de que, certo dia, enquanto pregava a uma enorme multidão em Llanddewi Brefi, muitos dos ouvintes que se encontravam mais ao fundo, bastante longe do lugar em que ele estava, reclamavam insistentemente que não o conseguiam ver nem ouvir bem. Ao se dar conta da insatisfação de boa parte do povo, Davi orou a Deus para que ao menos sua voz se fizesse ouvir, uma vez que estava anunciando não a si próprio, mas o santo Evangelho. Conta-se que, enquanto ainda orava, o solo sob seus pés se elevou, formando como que uma pequena colina, de modo que pôde ser visto e ouvido por todos convenientemente...
Davi foi um grande colaborador da missão que alguns santos, seus contemporâneos, desempenharam em Gales e na Britânia (hoje conhecida como Inglaterra), a exemplo de São Columba, de São Gildas e de São Finniano de Clonnard. Ele pessoalmente visitou diversas cidades inglesas, inclusive Glastonbury, no condado de Somerset, onde edificou um mosteiro com uma capela anexa, cujo altar adornou com uma preciosíssima safira – que, ao que tudo indica, é aquela mesma que, cerca de mil anos depois, o rei Henrique VIII, em seu ódio demoníaco contra a Igreja, confiscou para si, e que hoje faz parte das jóias da coroa inglesa...
Segundo outra das histórias que se contam sobre nosso santo – esta que, no entanto, se encontra dentre as mais lendárias de todas –, depois de muitos anos dedicados à evangelização da península britânica, ele decidiu peregrinar à Terra Santa, mais propriamente a Jerusalém, pois ouviu dizer sobre o grande número de ateus e de não-cristãos que estavam profanando os templos e lugares sagrados por onde andou Nosso Senhor. Lá chegando, apenas por meio de seus discursos inflamados de amor pela religião, teria conseguido converter um grande número de incrédulos, trazendo de volta para o coração da Igreja muitos de seus filhos desviados. Àqueles que não lhe deram ouvidos a princípio, Davi teria convertido por meio dos incontáveis milagres que realizou no meio do povo, inclusive curando doentes e paralíticos...
Depois de considerar cumprida sua missão em Jerusalém, de regresso à sua diocese, Davi faleceu de causas naturais no ano 589 (ou 590, segundo alguns autores), tendo sido seu corpo sepultado em sua cidade natal, que foi rebatizada como “Saint David”, em homenagem a ele, obviamente, o filho mais ilustre do lugar. Alguns hagiógrafos sustentam que São Davi teria mais de 100 anos de idade na ocasião de seu falecimento, o que justificaria o enfraquecimento natural de suas forças vitais. Além do mais, cabe ressaltar, uma peregrinação de Gales a Jerusalém – se é fato que ele a fez – consistia numa viagem muito penosa, de barco, a pé e a cavalo, e chegava a demorar vários anos. Imaginamos, portanto, que sua viagem à Terra Santa teria consumido consideravelmente suas últimas forças, levando-o ao total esgotamento físico...
Conforme nos transmitiu Rhygyfarch, escritor do século XI e biógrafo mais famoso de Davi, as últimas palavras do santo bispo aos seus filhos espirituais foram: “Sede felizes e guardem a fé e o Credo. Dediquem-se às pequenas coisas que me vistes fazer e que ouvistes de mim... Quanto a mim, andarei pelo caminho que nossos pais traçaram antes de nós... Dediquem-se às pequenas coisas”... Sobre o falecimento do bispo, São Centigerno de Llanelwy conta-nos um pormenor muito interessante: quando Davi expirou, sua alma foi vista ascender aos céus, sendo conduzida por uma multidão de anjos...
Sepultado na catedral que hoje leva seu nome, e que é um dos templos mais antigos de Gales, São Davi foi oficialmente canonizado pelo papa Calixto II no ano de 1123. Resultante do enorme prestígio que o santo gozou ainda em vida, mas ainda mais depois de seu falecimento, muitas cidades do Reino Unido receberam seu nome. Como se não bastasse, antes da “Reforma” promovida por Lutero, apenas no sul do País de Gales existiam pelo ao menos cinquenta igrejas dedicadas ao seu patrocínio...
O ateísmo crescente no País de Gales, como dissemos no início desta meditação, infelizmente não se trata de um fenômeno isolado, mas de um movimento cada vez mais intenso em diversos países do mundo, como na França, onde paróquias inteiras estão sendo fechadas e seus templos derrubados pelo poder público, inclusive sob a propaganda declarada de tentar apagar qualquer vestígio do cristianismo. Seria hipocrisia de nossa parte não reconhecer que muitos dos que recusam a fé sentem-se desapontados e frustrados com a religião especialmente mediante tantos casos de escândalos que têm sido denunciados nas últimas décadas, sobretudo os casos que envolvem abusos sexuais e autoritarismo da parte dos eclesiásticos, de padres e de bispos. Os criminosos, naturalmente, independentemente de quem sejam, devem ser julgados conforme a justiça dos homens, reservando a Deus seu justo juízo no tempo oportuno. De nossa parte, devemos nos fortalecer na fé, pois não podemos justificar nosso desapego a Cristo em virtude dos pecados dos homens. A atitude correta dos que amam a Cristo é exatamente ser sinal de contradição no mundo marcado pelo pecado...
Particularmente hoje, quando celebramos a memória de São Davi, nós nos voltamos a ele rogando que advogue a causa da Santa Igreja junto a Jesus, para que o mundo redescubra a luz da fé e para que se abra, sob a ação de Deus Uno e Trino, à esperança de um mundo novo...
OREMOS (do “Comum dos Pastores” do Missal Romano):
“Olhai, ó Deus, esta vossa família, que o bispo São Davi de Menévia gerou pela palavra da verdade e alimentou com o sacramento da vida; dai por suas preces o fervor da caridade aos que, por seu ministério, receberam a fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém”.
In Corde Iesu et Mariae, semper!
Fernando Martins.
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