Quem somos nós na parábola do Filho Pródigo?
Artigo de Luiz Carlos Conde - Postado no Boletim na edição 17 do Ano 6
Ao pesquisar a palavra “pródigo”, nós encontramos a definição como aquele que esbanja dinheiro, que se desfaz de seus bens de forma irresponsável. A parábola do filho pródigo conta a história do filho mais novo que pede um adiantamento de sua herança e, após esbanjá-la, volta arrependido para a casa do pai e buscando pelo perdão.
Mas, na história, há outro filho, rígido e obediente, que não aceita a misericórdia do pai com o filho mais novo. Em outras palavras, nós temos alguém que errou e pede perdão e outro que não está disposto a perdoar. Apesar de serem posições opostas, não é raro que cada um de nós já tenha interpretado ambos os papéis nos acontecimentos da nossa vida. Você já parou para pensar quem é você?
Embora seja muito conhecida a parábola do filho pródigo, o leitor pode reservar um tempinho para a leitura do texto bíblico, que é curto, porém, tem uma mensagem riquíssima, encontrada no Evangelho de São Lucas, capítulo 15, versículos do 11 ao 32. E como diz o Catecismo da Igreja Católica (nº 1439): “O dinamismo da conversão e da penitência foi maravilhosamente descrito por Jesus na parábola do ‘filho pródigo’, cujo centro é ‘o pai misericordioso’ […]”.
A narrativa demonstra três perspectivas: do filho mais novo, do pai e do filho mais velho. A história do filho mais novo é a do pecador, que abandona a casa do pai, anda por terras desconhecidas e sem riquezas, onde não há quem seja piedoso com ele. O filho menor é o homem mundano, é o “católico não praticante”. Apesar de conhecer o pai e toda sua justiça, prefere seguir uma vida solitária. Entende que não precisa de mais ninguém, vê os bens materiais (herança do pai) como tudo o que precisa para viver.
Reflita com a parábola
É muito comum que, quando deixamos de frequentar a Missa tenhamos o sentimento de desamparo. Também é comum que, quando uma sequência de coisas ruins nos acontece pensamos que é uma punição divina. A tristeza e a falta de esperança são sentimentos que atribuímos às situações externas a nós mesmos. Mas, na verdade, uma vida angustiada é consequência de nossas escolhas, principalmente daquela que nos faz retirar das mãos de Deus os nossos propósitos. Quando rejeitamos as bênçãos e o amor de Deus é como o filho mais novo, que se perde no mundo porque abandonou a proteção e os cuidados da casa do pai. Esse desemparo que te aflige é o resultado da confiança na imperfeição humana. Põe tuas obras nas mãos de Deus e os frutos surgirão.
Portanto, se você se vê como o filho pródigo, saiba que a misericórdia do Pai para contigo sempre o conduzirá ao abraço e à recepção com amor e alegria.
Já o filho mais velho é o hipócrita, termo que o próprio Cristo usou para definir os escribas e os fariseus (Mt 23, 13). O filho maior representa aquele que cresceu em uma família católica ou que há muito tempo participa ativamente da Igreja. Esse deveria entender a misericórdia do pai e compartilhá-la. Deveria saber que a vida longe do pai é dura e injusta, que o irmão menor sofreu e precisa de perdão. O irmão mais velho deveria ser piedoso, misericordioso e amoroso, à imagem do pai. Mas, ao contrário, o filho maior endurece o coração, julga e condena, demonstrando que, apesar de uma vida toda na casa do pai, não aprendeu nada com ele. Muitos exercem atividades como ministros, leitores, membros de pastorais e, até mesmo, catequistas, mas, na verdade, “eles falam e não praticam” (Mt 23, 3).
Exame de consciência
É preciso muita atenção e cuidado. Se você exerce alguma função na sua paróquia, lembre-se de que seu papel é servir; e sua posição não deve, de forma alguma, colocar o outro em situação de inferioridade. Pense nisto: você “manda” em algo na sua paróquia? Você tem o “seu lugar” nos bancos da Igreja? Você tem algum objeto que chame de “meu” na paróquia? Todos que desejam participar precisam vir até você? Por exercer a função, você acredita ser “mais católico” que o outro? Você comenta os erros e os pecados dos outros? É importante para você ser visto no altar?
Se você respondeu “sim” para qualquer um desses questionamentos, você é o filho mais velho. Então, é importante buscar a parábola dos dois filhos (Mt 21, 28-32) e fazer um sincero exame de consciência. Manter uma atitude autoritária e intolerante, no ambiente da sua paróquia, representa o exato oposto da missão que o Cristo nos deixou, porque, agindo assim, você apenas afasta os que desejam a conversão.
Mas a figura do pai é comum a ambos os filhos e demonstra a misericórdia de Deus para conosco. Não há razão para se manter no pecado. Pouco importa com qual dos filhos você se identificou, se até então foi indiferente à Igreja, se está perdido na vida mundana ou você que, de cima do altar, tem afastado os que buscam amparo. Seja pelas falhas do filho mais velho ou mais novo, o arrependimento e a penitência sempre serão os primeiros passos para “vestir-vos do homem novo” (Ef 4, 24). Que assim seja!
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