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A estação dos direitos será efêmera se não nascer uma nova estação dos deveres
Atualizado: 27 de dez. de 2020
Em fevereiro de 2016, o diretor da pastoral universitária da diocese de Roma, dom Lorenzo Leuzzi, escreveu uma carta aberta aos universitários da Cidade Eterna para refletir com eles sobre a “cultura do efêmero” – intimamente ligada à mentalidade e às atitudes que o Papa Francisco chama de “cultura do descarte”. Pela sua relevância e atualidade, reproduzimos a seguir esse texto:
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Queridos universitários,
Faz uma semana, nosso Senhor chamou a minha mãe para a vida eterna. Foi uma experiência que me ajudou bastante a repensar a minha vida. Tenho que dizer que experimentei a alegria da ação de graças.
Abraçando os amigos que me deram forças com grande benevolência, procurei identificar o núcleo desta minha experiência de filho, que durou 60 anos. Uma frase famosa de Aldo Moro me veio à mente:
“A estação dos direitos será efêmera se não nascer uma nova estação dos deveres. Este país não se salvará, a estação dos direitos e das liberdades se revelará efêmera se não nascer na Itália um novo senso de dever”.
Amigos queridos, nunca como na hora da morte emerge o grande julgamento sobre a nossa vida: efêmera ou eterna!
Quando Aldo Moro pronunciou aquelas palavras, a sociedade italiana estava diante de uma encruzilhada: ou continuava no caminho da reconstrução, difícil, mas envolvente, ou escolhia o caminho da complacência narcisista, legítima até, mas sem qualquer perspectiva de futuro.
Quando somos jovens, é fácil escolher o segundo caminho, o dos direitos e das liberdades, livre de responsabilidades diante de nós mesmos e dos outros.
Eu recebi o grande presente de acreditar que o hoje é sempre ambíguo, que ele não exaure a nossa existência. Confiar-se ao hoje é construir sobre areia, sobre o efêmero.
Quando estudei o existencialismo, fosse da inspiração cultural que fosse, inclusive religiosa, fui sempre cético. Sim ao hoje! Mas… e o amanhã?
Queridos amigos, o efêmero é o hoje vivido sem passado e sem futuro. É o aqui e agora daqueles que não sabem que têm uma origem e que podem caminhar ao encontro de um objetivo. A morte está diante de mim para me recordar que eu preciso escolher entre confiar no efêmero ou ter um projeto de vida que permaneça e nunca se apague.
Quem pode me libertar do efêmero? Só o amor de Cristo!
Muitos tentaram resolver o problema com propostas de grande envergadura religiosa ou social. Penso no projeto do marxismo, na utopia do progresso contínuo, nas experiências de introspecção psicológica ou de vida espiritual: tudo isso é interessante e fascinante. Mas e eu, por que é que eu tenho que me comprometer se tudo é efêmero?
Os cristãos também sofrem a decepção de uma experiência de fé efêmera, forte e agressiva, mas vazia se, por trás dela, não estiver Ele, o Senhor da história.
(…) Este é o dilema: a novidade do efêmero ou a novidade da vida em Cristo? Em outras palavras: vivo no hoje ou vivo na eternidade? (…) Você quer passar ou quer permanecer? Com Cristo você pode dizer: tudo passa, mas eu permaneço. Confie n’Ele! Ele não quer “alistar” você; Ele só quer que você viva plenamente.
É por isso que Aldo Moro podia dizer com franqueza: a estação dos direitos e das liberdades, sozinha, não é suficiente para construir a história. É necessário algo mais importante: o amor de Cristo, que nos liberta do efêmero.
Só Ele pode nos dar os olhos para vermos a vida com o mesmo amor com que Ele a vê.
Com amizade,
+ Lorenzo, bispo